terça-feira, 7 de setembro de 2010

O rádio

Minha mãe gosta muito de ouvir rádio.
E eu era bem pequena ainda quando ela disse que o rádio era seu melhor amigo. E não tinha como não ser; era sempre ele nos bons e maus momentos. E me lembrando agora, ele era um "radinho" bem antigo, daqueles que tem algumas luzes, uns botões quadrados e uma telinha de buracos grandes por onde o som passa.

Éramos eu, mamãe e o rádio nas tarde da minha infância. Ora ouvindo fitas K7, ora a programação da cidade. Eu dançava as vezes, quando a música era legal e me animava. Ela também dançava as vezes, quando tocava um "modão".

Já um pouco maior, nós ouviamos estórias de pessoas que não conhecíamos, contadas no rádio. Ouvíamos programações especiais e, aos domingos de manhã, a missa. Posso dizer que já ouvimos um milhão de coisas diferentes no rádio.

A família, de modo geral, também sempre ouviu o rádio. Mas somente eu e mamãe éramos amigas dele. E ele nosso amigo.

Mas o que me fez escrever essas palavras foi uma coisa que eu ouvi por muito tempo e, mesmo depois de deixar de ouvi-lá, não a esqueci. Era uma musiquinha que tocava na abertura de um programa local - que provavelmente não existe mais. Porque sim, eu deixei de ouvir o rádio.

Mas a música não saiu da memória nem do coração. Era tão bonita, sincera e eu - no auge da infância - amava aquela canção.

Só muitos anos depois, aqui mesmo na internet, foi que pude descobrir mais sobre aquela música. E mesmo depois de tanto tempo, ela manteve seu significado. Ouvi-lá novamente me fez ser aquela criança das tarde leves, dos dias vividos em plena felicidade. Me fez lembrar dos valores que cultivava feliz.

Porque não é só de coisas boas que somos formados. É preciso algo que deixe saudade, que nos dê medo de perder, de quebrar. Algo para nos lembrar que é preciso ficar alerta sempre para com aqueles que amamos. É isso que penso quando ouço aquela canção: eu preciso ser muito cuidadosa com aquilo que amo. Porque não existe amor sem cuidado, sem zelo.

Foi essa a lição que essa música me ensinou, mesmo ela sendo assim, tão "bobinha". Eu entendi, desde cedo, que o importante era manter, cuidar, valorizar. Respeitar.

Talvez essa canção nem tinha a pretensão de ser assim, tão especial para alguém como foi para mim. Talvez ela foi apenas mais uma canção que alguém escreveu e que outro alguém escolheu colocar em uma programação qualquer de uma rádio qualquer.

Mas naquelas tarde da infância, naqueles momentos de amizade sincera, de pensamento livre, essa canção fez toda a diferença na minha vida. Ainda bem que mamãe me permitiu ser amiga do rádio também.





Harmony Cats - Amigo é...

nayarac.