segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O lado de cá.

Porque há dores que nunca passam.

Eu sempre achei que essa era a real vontade dele. Depois de tantas idas e vindas de uma vida sem muitas explicações, eu achava verdadeiramente, que ele desejava esse descanso.
Não que ele ansiasse por isso, mas fato é que as dores dele também pesavam. E pesavam muito; eram nítidas demais para não enxergarmos.
Por conta disso, nossa vida foi, de certa forma, dedicada a tornar a dele mais leve, menos penosa.

Eu cresci no mundo que ele me contava, com voz rouca e quase sem rodeios. Era simplista, com toda elegância e complexidade que essa palavra contém.
Era rude também, mas não por preferir ser assim. Era, mais do que qualquer outro adjetivo que se possa dar, um humano.

A generosidade em compartilhar seu olhar vago, sua mão enrugada, sua risada frouxa foi enorme; me garantiram uma vida de felicidade plena, contagiante, inexplicável.
Tive, como poucos puderam ter, a alegria, a oportunidade, a dádiva de chamar alguém de avô.

O avô, que era figura pontual na família, se foi há tempos. Mais do que eu gostaria, mais do que eu imaginava.
E mesmo assim, essa ausência continua.

Imaginei que o tempo me ajudaria a lembrar de sua figura mais brandamente, com menos daquela angústia da hora da sua perda, mas isso é só ilusão. Tudo ainda está aqui.

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O pai da minha mãe foi também o meu pai. Foi também criança com eu, foi também o pai que meu pai perdeu muito cedo. O amigo dos amigos, a figura cativante da família, a presença sempre requerida, a pessoa certa na História errada.
Desisti de tentar torná-lo uma lembrança, uma passagem feliz e só.
Desisti de me imaginar sem esse pedaço, sem esses momentos de saudade eterna.

A dor não é da partida, é da certeza do nunca mais.

Nayarac.

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