quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Parte V - O diálogo com os outros jornais

Parte V - O diálogo com os outros jornais

O primeiro jornal impresso no Brasil foi a Gazeta do Rio de Janeiro, em 10 de Dezembro de 1808. Seus moldes eram os mesmo da sua irmã lusitana: a Gazeta de Lisboa. Surge como folha oficial do reino (e para também amenizar o efeito do Correio no país), trazia decretos e fatos relacionados a Família Real. Continha também um noticiário internacional, só que muito bem filtrado pela censura régia. Em nada sugeria o liberalismo, até 1821 quando apóia abertamente o movimento de independência. Tinha periodicidade curta, intensão informativa e não doutrinária; poucas falas e baixo custo. A Gazeta do Rio de Janeiro era mais parecida com o formato do jornal de hoje, ao passo que o Correio Braziliense assemelhava-se a uma revista mensal.

O Correio, porém, já encontrava-se inserido na leitura de alguns grupos e para combatê-lo, a coroa passa a apoiar a circulação de outros jornais (além da Gazeta), como o Malagueta, O Espelho, o Revérbero Português, entre outros.

Outra tentativa de ameniza o impacto das declarações e acusações que Hipólito fazia em seu jornal, foi a criação em 1811, do periódico “O Investigador Português”, por dois médicos lusitanos que residiam em Londres. O jornal foi totalmente financiado por Dom João, que o fez no intuito de não deixar que a voz absoluta na Europa sobre a situação brasileira fosse o Correio. Afinal, a cidade era o ponto de encontro das idéias e permitir que Hipólito “reinasse sozinho” por lá era prejudicial a sua imagem.

Alguns autores não consideram o Investigador Português e o Correio Braziliense como imprensa brasileira, uma vez que eram produzidos em Londres. Mas segundo Nelson Werneck Sodré um único fato nos obriga a fazê-lo: é o direcionamento de suas falas para o Brasil: o objetivo era atingir a população brasileira.

As proporções que o Correio toma, com o passar dos anos, são cada vez mais incômodas para o governo português e os que estavam envolvidos com ele, tanto que o embaixador português em Londres declara em cartas pessoais o enorme pesar que sentia por não poder punir Hipólito pela sua conduta, uma vez que ele era amigo íntimo do conde de Sussex, filho do rei.

Enquanto isso em Portugal, a insatisfação popular pela ausência do rei era cada vez maior. Quando a corte mudou para o Brasil, deixou o país numa situação difícil – o controle de Napoleão. Só que mesmo após sua derrota, em 1815, a submissão continua, mudando apenas o comando: agora eram as tropas inglesas que governavam. O clima de insatisfação aumenta, juntamente com as idéias de uma revolta. É dentro das sociedades secretas que os movimentos de contestação em Portugal crescem e, é de uma delas constituída de comerciantes, militares e magistrados, que parte a Revolução do Porto. Instituem um parlamento e votam a nova constituição que obriga o retorno do rei; caso contrário, ele perderia a coroa.

Com a vinda da Família Real, o Brasil tinha sido elevado a condição de metrópole e uma das exigências da nova constituição portuguesa era a volta de colônia do país. Hipólito da Costa fica decepcionado com a notícia, pois se o fato acontecesse todas as espectativas dele para o Brasil não poderiam se concretizar. E pela primeira vez em seu discurso, passa defender a independência.

Nelson Werneck Sodré2 faz uma pequena reflexão sobre o repentino apoio da elite brasileira aos jornais: antes a imprensa era temida por ter o poder de inserir elementos que contestassem o antigo regime, muito cômodo ao grupo dominante. Contudo aquelas novas regras ameaçavam demais os recentes laços econômicos. Era preciso faz algo que impedisse esse retorno e era o apoio da população que garantiria o sucesso da empreitada. Por isso se tornou preciso mobilizar a massa e, para tanto, foi necessário despertar a opinião pública, que só seria possível através da imprensa.

É então, a partir de meados de 1821 quando a corte volta a Portugal, que a Gazeta do Rio de Janeiro passa a defender o liberalismo e a modernidade política e a acompanhar de perto o processo de separação entre metrópole e colônia, posicionando-se a favor da independência, antes mesmo do Correio Braziliense. Essa largada na frente ocorre devido a diferença geográfica: o Rio de Janeiro era o cenário do movimento e Londres ficava bem longe dali.

Segundo Marco Morel, colaborador do livro História da Imprensa no Brasil3, o sentimento de Hipólito diante da possível volta a condição de colônia do Brasil era “ Império do Brasil sim, mas na galáxia portuguesa e se possível como o sol e não como mero planeta.” Para Hipólito era preciso seguir em frente e não retroceder.

O jornal que foi fundado em 1° de Junho de 1808 publica sua última edição em Novembro de 1822, após 175 exemplares editados no total. Hipólito morre em 11 de Setembro de 1823, na época como cônsul geral do Brasil em Londres (morreu sem saber da nomeação), de supostamente, infecção intestinal.

Hipólito era fruto de seu tempo e sua formação política foi resultado da influência liberal de então. Admirava a forma com os EUA administravam suas federações (apesar das guerras internas conseguiam manter uma balança comercial favorável) e o modo como o parlamentarismo funcionava na Inglaterra. Mas sua raízes estavam na elite e por conta disso só abandonou a postura monaquista no último minuto do jornal. Quando o apoio a independência acontece, a razão de ser do Correio Braziliense acaba. Ele entende que sua missão educadora para o Brasil já tinha sido concluída: já não era mais época de ensinar e sim de praticar.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Parêntese

“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido.” - Clarisse Lispector

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Parte IV - O Correio Braziliense e sua presença

Parte IV - O Correio Braziliense e sua presença

O nome era porque naquela época, chamavam-se :
brasileiros – comerciantes que negociavam com o Brasil;
brasilianos – os nativos em geral;
braziliense – portugueses nascidos ou estabelecidos no Brasil e que se sentiam vinculados à terra como se fosse sua verdadeira pátria.

Hipólito demonstrava querer enviar sua mensagem aos leitores do Brasil. Numa época em que o acesso a educação era restrito, a
imprensa se firmava como difusora de novas idéias. O jornalista se confundia com o educador.
O Correio Braziliense tinha o tamanho de um livro pequeno. Tinha uma capa azul escuro, era composto de vários e longos artigos com
informações analíticas e textos que, as vezes, se prolongavam por vários números seguidos. Tinha cerca de 140 páginas e era dividido
nas seções de:

  • Política,
  • Comércio e Arte,
  • Literatura e Ciência,
  • Miscelânea e, eventualmente,
  • Correspondência.

Era na parte da Miscelânea que se incluíam as “Reflexões sobre as novidades do mês” e a resenha de alguns livros com as observações pessoais de Hipólito. Foram nas páginas do Correio que, de forma organizada e consistente, apareceram seus projeto e planos para o Brasil. Por isso, tanto para a História da impressa como para a Historiografia em geral, essa é uma obra tão relevante.

A maior parte do jornal era dedicada a publicação de documentos sobres os acontecimentos mundiais, além de notícias que ele recolhia nas outras gazetas mundiais. Era o noticiário mais atualizado possível. Foi através do Correio que os brasileiros acompanharam a trajetória de Napoleão e sua derrota e a Independência das colônias espanholas na América. Suas fontes eram variadas e, as vezes, bem próximas do fato narrado: no caso das colônias americanas é bem provável que as informações fossem relatadas pelos próprios libertadores - Miranda, Bolívar, San Martin e O`Higgins - os quais se tornaram amigos de Hipólito através da maçonaria.
Mesmo cobrindo fatos internacionais, era no Brasil que estava seu interesse. Isabel Lustosa diz que o Correio Braziliense surge para informar os brasileiros do que se passava no mundo, para influir em seu espírito e direcioná-los para as idéias liberais e para chamar a atenção aos prejuízos do absolutismo ou qualquer forma de despotismo que Hipólito escrevia1. Comentava e criticava as autoridades portuguesas e seus erros administrativos, defendia substituição gradativa do trabalho escravo pelo livre (achava que a melhor forma para isso era a imigração de europeus pobres para o Brasil, mas com melhores leis - claras e eficazes - e uma menor interferência do Estado sobre as ações da sociedade). Era contra os monopólios que impediam o desenvolvimento do comércio e da indústria e a favor de uma maior transparência nas contas públicas. Apesar da postura, não era um democrata; queria reformas, sim, mas realizadas pelo governo e não pelo povo. Acreditava, como viu na Inglaterra, que a monarquia institucional era a melhor forma de governar.

Com a vinda da corte e a maior circulação de idéias, quase todas paralelas a ascensão da burguesia, as conversas políticas em relação à monarquia aumentavam. As contestações começavam a surgir e o Correio Braziliense ajudava nessa divulgação. Entre os padres do baixo clero, as idéias dos escritores europeus encontravam repercussão, tanto que um determinado bispo afirmava: “ a Revolução Republicana não é contrária ao evangelho, visto que o povo não faz parte do acordo bilateral entre metrópole e colônia”. As sociedades secretas e suas idéias se multiplicavam, apoiadas nos escritos que chegavam ao Brasil pelo Correio Braziliense.

Entre os historiadores, o Correio Braziliense causa polêmica no que diz respeito a sua validade e influência na mentalidade dos brasileiros. Ter sido ou não o primeiro periódico a circular no país, é outro motivo que causa controvérsias. Nelson Werneck Sodré, autor do livro História da Imprensa no Brasil2, defende a idéia de que “nada teve de extraordinário o aparecimento do Correio Braziliense, pois sua influência foi relativa na medida em que sua forma de fazer imprensa era inadequada dentro do contexto político-social que o Brasil se encontrava; era pouco lido (mais repassado de boca em boca). Quando surgem as condições adequadas para o aparecimento real da imprensa, o Correio perde sua razão de ser. A elite da qual ele fazia parte aceita a independência como solução. Por este motivo, quando se concretiza a independência o jornal deixa de circular.”

Werneck relata as duas linhas historiográficas que existem sobre o Correio: os que defendem, dizem que “apesar de não ser produzido no Brasil foi o único que conseguiu apontar falhas na administração do país” - Oliveira Lima, estudioso do período joanino. Os que contestam dizem que “ele tratou a questão dos escravos como sendo contrário a escravidão”, pondo-se contra as tendências democráticas. O que não se pode perder de vista é que Hipólito pertencente a elite e, portanto, seu pesamento se posiciona nas ações que favorecem sua condição econômica.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Correio Braziliense na imprensa do Brasil - parte III

Parte III - Formação de Hipólito da Costa

Hipólito José da Costa Mendonça Furtado, nasceu em 1764 na colônia do Sacramento, em Cisplatina. Cresceu em Pelotas, no Rio Grande do
Sul. Era de filho de uma família aristocrata e como era o costume, partiu rumo à Coimbra, para estudar. Formou-se em 1794 com 30 anos, idade
com que (também) ingressou na corte para trabalhar.

Em 1798, foi para os EUA em missão especial do governo português para colher sementes e espionar os avanços tecnológicos. Morou lá por
dois anos e conviveu em uma sociedade organizada, com universidades e um processo eleitoral “adiantado” - diferente de tudo o que conhecia.
Da América trouxe a vontade de implantar o progresso e afeição pela liberdade. Foi também nos EUA que teve seu primeiro contato com a
maçonaria – acontecimento que mudaria sua vida – cujos ritos pressupunham várias práticas, incluindo a liberdade religiosa, o que em Portugal
era proibido.Volta a Lisboa em 1800 como funcionário da Imprensa Régia: era responsável pela publicação de livros de técnica e economia.
Paralelo ao seu trabalho, se envolvia mais ainda com a maçonaria portuguesa. Uma viagem oficial a Londres, em 1802, o põe em contato com a
maçonaria inglesa (até então a mais forte do mundo) da qual eram membros os filhos do rei Jorge III e de um deles – o Conde de Sussex
(Augusto Frederico) Hipólito se tornou grande amigo.

Foi por conta dos novos contatos feitos em Londres, que logo depois de sua chegada a Portugal, é preso pelo Santo Ofício. Só consegue sua
liberdade cinco anos mais tarde, quando por interversão do Conde de Sussex, foge da prisão. Impossibilitado de permanecer em Lisboa, volta
à Londres e sobrevive com a ajuda de amigos, além de trabalhar como tradutor e professor de português.

Com a chegada da Família Real no Brasil (escapando da perseguição napoleônica aos reis) Hipólito vê a oportunidade de sua pátria conhecer
o progresso e o desenvolvimento. Desejoso de participar dessas mudanças, viu que a “criação” da palavra impressa e livre de censura, tal como
vira nos países que conhecera, seria a melhor forma de contribuir para a formação do Brasil. Observou que na Inglaterra a monarquia
constitucional era um fato; onde o Parlamento realmente limitava o poder do rei; onde a imprensa era livre. Por sua amizade com o Conde de
Sussex, sentiu-se à vontade para criticar a administração portuguesa como nenhum outro português ousaria fazer.
Foram essas possibilidades que o motivaram a publicar em Londres no dia 1º de Junho de 1808 o Correio Braziliense.

Correio Braziliense e a imprensa no Brasil - parte II

Parte II - A imprensa no contexto brasileiro

O Brasil não tinha universidade e era um dos únicos no mundo, exceto a África e a Ásia, que não produzia a palavra impressa. As poucas
tentativas esbarraram na intransigência das autoridades portuguesas.

A base econômica, o escravismo, dispensava investimentos na cultura. Antes de 1808 houveram duas tentativas de se implantar tipografias,
mas foram abafadas pela corte que temia a propagação de idéias contrárias ao regime. Isso porque neste período as idéias liberalistas
infestavam vários países como EUA e França e sendo a base política de Portugal a monarquia, não convinham facilitar a circulação de tais
idéias, uma vez que estas entravam diretamente em choque com a legitimidade dos reis. A ignorância era necessária ao colonizador.

As mudanças vieram com a chegada da Família Real que promoveu a abertura dos portos, desabrochando o comércio, entre outros benefícios.
A presença francesa no território português obrigou a criação no Brasil de fábricas de ferro, pólvora e vidro. Havia também a necessidade de
divulgar os atos do governo e notícias interessantes à colônia, daí a implantação da imprensa logo após a chegada do rei. Será nesse contexto
de transição que o Correio Braziliense aparecerá.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O primeiro artigo não se esquece.

Desenvolvi com a querida Ana e a orientação do professor (mara) Petters uma "singela" análise sobre o Correio Braziliense, o primeiro periódico que circulou no Brasil, lá em 1808.
O texto ficou longo, então vou postar em partes.
Primeiro o resumo e a introdução.
Boa leitura!!
nayarac.


O Correio Braziliense na imprensa do Brasil

Autoras
Ana Paula da Rocha Lima
Nayara Cristina Jorge

Orientador
Ms. Carlos Eduardo Marota Petters

Instituição
Centro Universitário Toledo - UniToledo



Resumo
O foco desse trabalho é mostrar como o Correio Braziliense e seu idealizador – Hipólito da Costa - marcaram o advento da imprensa no Brasil.
Para tanto, foram feitas as leituras das obras básicas sobre o tema e, destacando os elementos que permitiram dar nova abordagem aos fatos, reinterpretando-os segundo a perspectiva do impacto nacional que este jornal causou.
O que se apresentou foi o grande emaranhado político que compunha o cenário nacional daquele tempo: os impressos que veicularam no Brasil pré-independência propagavam diferentes vozes: algumas dirigidas por interesses pessoais; outras nem tanto, mas todas na intensão de influenciar os que poderiam mudar a realidade de então.


Parte I - O contexto do livro
Em Portugal do século XVI, o livro passava por três censuras: a episcopal, a da Inquisição e a Régia exercidas pelo Desembargo do Paço.Sua circulação é restrita e complicada.

Essa situação começa a mudar em fins do século XVIII, quando inicia-se um movimento de formação das bibliotecas particulares (apesar da leitura ainda ser considerada um ato criminoso). Eram os estudantes que transitavam na Europa e tinham acesso a várias obras que faziam sua
veiculação, muitas vezes de forma clandestina e perigosa. Com esta prática, o volume de livros comercializados aumenta: dentre essas, as chamadas obras heterodoxias (como Montesquieu, Coleção das Leis Constitucionais dos EUA, Voltaire, entre outros). Os pontos de encontro e saída dessas obras eram casas formadas por franceses (em sua maioria) que viviam em Lisboa. Lá, eles disponibilizavam quase todas as obras modernas da época. Houve um desses livreiros que chegou a introduzir mais de 12 mil exemplares da Constituição Francesa em Portugal, fato que ilustra como era a atuação desse grupo. Mas a maior parte do transporte de papéis, revistas e livros que circulavam no mundo era feita por marinheiros ingleses, que comercializavam no cais dos países que aportavam.

No Brasil os livros eram vistos com extrema desconfiança, só natural na mão de religiosos. Bibliotecas, apenas em mosteiros e colégios. É com a abertura dos portos, em 1808, que as mudanças começam: aumenta o volume dos livros que entravam no país, assim como a vigilância sobre eles.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Posicionamento

Bem, post rápido pra dizer que como eu quase não tenho tempo de escrever todas as coisas legais que vejo/ouço por ai, vou colocar aqui os textos que produzo na faculdade.
Alguns são só, outros com a companhia maravilhosa da queria Ana.
Perdoem os erros e espero que gostem.
História é para encantar, não se esqueçam, ok (rs)??