quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Parte IV - O Correio Braziliense e sua presença

Parte IV - O Correio Braziliense e sua presença

O nome era porque naquela época, chamavam-se :
brasileiros – comerciantes que negociavam com o Brasil;
brasilianos – os nativos em geral;
braziliense – portugueses nascidos ou estabelecidos no Brasil e que se sentiam vinculados à terra como se fosse sua verdadeira pátria.

Hipólito demonstrava querer enviar sua mensagem aos leitores do Brasil. Numa época em que o acesso a educação era restrito, a
imprensa se firmava como difusora de novas idéias. O jornalista se confundia com o educador.
O Correio Braziliense tinha o tamanho de um livro pequeno. Tinha uma capa azul escuro, era composto de vários e longos artigos com
informações analíticas e textos que, as vezes, se prolongavam por vários números seguidos. Tinha cerca de 140 páginas e era dividido
nas seções de:

  • Política,
  • Comércio e Arte,
  • Literatura e Ciência,
  • Miscelânea e, eventualmente,
  • Correspondência.

Era na parte da Miscelânea que se incluíam as “Reflexões sobre as novidades do mês” e a resenha de alguns livros com as observações pessoais de Hipólito. Foram nas páginas do Correio que, de forma organizada e consistente, apareceram seus projeto e planos para o Brasil. Por isso, tanto para a História da impressa como para a Historiografia em geral, essa é uma obra tão relevante.

A maior parte do jornal era dedicada a publicação de documentos sobres os acontecimentos mundiais, além de notícias que ele recolhia nas outras gazetas mundiais. Era o noticiário mais atualizado possível. Foi através do Correio que os brasileiros acompanharam a trajetória de Napoleão e sua derrota e a Independência das colônias espanholas na América. Suas fontes eram variadas e, as vezes, bem próximas do fato narrado: no caso das colônias americanas é bem provável que as informações fossem relatadas pelos próprios libertadores - Miranda, Bolívar, San Martin e O`Higgins - os quais se tornaram amigos de Hipólito através da maçonaria.
Mesmo cobrindo fatos internacionais, era no Brasil que estava seu interesse. Isabel Lustosa diz que o Correio Braziliense surge para informar os brasileiros do que se passava no mundo, para influir em seu espírito e direcioná-los para as idéias liberais e para chamar a atenção aos prejuízos do absolutismo ou qualquer forma de despotismo que Hipólito escrevia1. Comentava e criticava as autoridades portuguesas e seus erros administrativos, defendia substituição gradativa do trabalho escravo pelo livre (achava que a melhor forma para isso era a imigração de europeus pobres para o Brasil, mas com melhores leis - claras e eficazes - e uma menor interferência do Estado sobre as ações da sociedade). Era contra os monopólios que impediam o desenvolvimento do comércio e da indústria e a favor de uma maior transparência nas contas públicas. Apesar da postura, não era um democrata; queria reformas, sim, mas realizadas pelo governo e não pelo povo. Acreditava, como viu na Inglaterra, que a monarquia institucional era a melhor forma de governar.

Com a vinda da corte e a maior circulação de idéias, quase todas paralelas a ascensão da burguesia, as conversas políticas em relação à monarquia aumentavam. As contestações começavam a surgir e o Correio Braziliense ajudava nessa divulgação. Entre os padres do baixo clero, as idéias dos escritores europeus encontravam repercussão, tanto que um determinado bispo afirmava: “ a Revolução Republicana não é contrária ao evangelho, visto que o povo não faz parte do acordo bilateral entre metrópole e colônia”. As sociedades secretas e suas idéias se multiplicavam, apoiadas nos escritos que chegavam ao Brasil pelo Correio Braziliense.

Entre os historiadores, o Correio Braziliense causa polêmica no que diz respeito a sua validade e influência na mentalidade dos brasileiros. Ter sido ou não o primeiro periódico a circular no país, é outro motivo que causa controvérsias. Nelson Werneck Sodré, autor do livro História da Imprensa no Brasil2, defende a idéia de que “nada teve de extraordinário o aparecimento do Correio Braziliense, pois sua influência foi relativa na medida em que sua forma de fazer imprensa era inadequada dentro do contexto político-social que o Brasil se encontrava; era pouco lido (mais repassado de boca em boca). Quando surgem as condições adequadas para o aparecimento real da imprensa, o Correio perde sua razão de ser. A elite da qual ele fazia parte aceita a independência como solução. Por este motivo, quando se concretiza a independência o jornal deixa de circular.”

Werneck relata as duas linhas historiográficas que existem sobre o Correio: os que defendem, dizem que “apesar de não ser produzido no Brasil foi o único que conseguiu apontar falhas na administração do país” - Oliveira Lima, estudioso do período joanino. Os que contestam dizem que “ele tratou a questão dos escravos como sendo contrário a escravidão”, pondo-se contra as tendências democráticas. O que não se pode perder de vista é que Hipólito pertencente a elite e, portanto, seu pesamento se posiciona nas ações que favorecem sua condição econômica.

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