quinta-feira, 23 de abril de 2009

E mais ainda - parte II

Dentro desse vai-e-vem de governos particulares, houve a presença de personagens da História política que merecem um olhar mais aprofundado. Dentre eles, os coronéis que, com origem na antiga Guarda Nacional, souberam estabelecer uma teia de poder no interior dos estados no Nordeste quase impenetrável, que dificultava a penetração da nova ordem. Assim, os primeiros anos da república foram pensados para definir o que ela seria. A “consolidação republicana” de Prudente de Morais e continuada por Campo Salles é exemplo.

O que esses presidentes fizeram foi organizar a sociedade (leia-se os grupos que tencionavam tomar o poder) de uma maneira que beneficiasse o principal produto da nação: o café. Pensando nisso, foi criada uma aliança política chamada de Política dos Governadores, onde todos os menbros filiados ao PR (partido republicano) tinham seu quinhão de poder e podiam – todos juntos – dirijir a política nacional para seus interesses. Tão bem pensado e arquitetado o esquema político feito por Salles que ele só veio a baixo depois de muitos anos.

Mas o que tanto era preciso fazer para que o café lucrasse? Para isso, quase nada. Afinal o protudo era a “galinha dos ovos de ouro” da época: sua aceitação no mercado europeu e principalmente norte-americano sempre teve grande êxito. O que se pretendia era uma política interna que supervalorisasse o produto, de modo a deixá-lo valendo muito mais do que de fato valia. Ferrovias, taxas cambiais diferenciadas, garantia de compra pelo Estado da produção não vendida, entre outras medidas foram adotadas para assegurar o café; quanto mais se aplicava nesse sentido, maior era o ganho. Contudo, essa política não pode ser mantida para sempre e quando ela começa a ruir, não há mais salvação para a economia brasileira: afinal o Estado que tanto investiu na cultura do café “esqueceu” de investir em outros meios que pudessem lhe sustentar se o precioso grão faltasse. E foi o que aconteceu, quando acontece a 1ª Guerra Mundial, ele faltou.

Faltou porque em período de guerra todas as econonias se voltam para dentro, seja na produção bélica ou de alimentos de subsistência (no caso, no período de pós guerra). E o café, apesar de muito bem aceito não se enquadra em nenhum dos dois casos – não é bélico nem de primeira necessidade. É assim que seu comércio entra em declínio.

Entre uma e outra tentativa de salvar a economia, que até então é majoriatariamente agrícola, aparecem os primeiros passos do processo de industrialização do país. A grande e ainda crescente massa de imigrantes que há tempos vem para o Brasil (desde o fim da escravidão) já não encontra mais abrigo no campo e parte para as cidades, onde as fábricas podem acolher a todos. Todos não, preferencialmente aqueles que já possuem o conceito capitalista de produção em mente: os imigrantes europeus são absorvidos mais rápido por essas crescentes indústrias.

Rápida também é a dissiminação das ideias políticas do operariado europeu. Sua alta condição politizada faz repercurtir uma situação incômoda há muito tempo pela população urbana brasileira: desde sempre os investimentos foram direcionados para o campo e a cidade não possuia as menores condições de crescimento, muito menos de suportar a onda de novos moradores. Era preciso fazer algo rápido e antes que outros o façam.

A falta de condições urbana, de leis regulamentadoras para o trabalho, os baixos salários, crescente insatisfação e a total desatenção do governo para esses problemas geravam um mal-estar na sociedade brasileira. Principalmente na sociedade paulista que, em 1917 – ano da principal greve da História, tinha cerca de 15.000 operários. Com um contingente desse era improvável que o Estado os ignorassem, mas era o que acontecia: a única relação que o presidente tinha com essa parcela da população era a repressão. Epitáfio Pessoa e sua cúpula não pleitava acordos. Os problemas eram resolvidos com o uso da força.

E até quando essa situação foi sustentada? Como poderia sobreviver um país onde não há políticas que beneficiem campo e cidade, trabalhadores rurais e urbanos? No período que compreendeu a República Velha, a situação durou até o fim: é em 1930 que Getúlio Vargas emcabeça a Revolução de 30 e altera o esquema político. Mas isso não siginifica que a partir de então tudo seria diferente. Getúlio, assim como todos os seus aliados e opositores pertenciam ao mesmo grupo de origem: a elite brasileira. E como era de se esperar, suas posturas foram semelhantes. A era Vargas promoveu mudanças necessárias no país mas não as fez por glória; as fez para dar continuidade a um sistema que ainda iria beneficiar poucos e esquecer-se de muitos.

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