sexta-feira, 23 de abril de 2010

Um dia sem culpa

pra poder sair por ai, sem pressa pra voltar, sem ladeira pra subir, sem bolsa pra carregar.
Só ir, de porta em porta, de cor em cor, vendo, aprendendo, gostando um pouco de cada coisa que
se revela em pequenas partes.


Pra comer mais um pedaço de bolo, de pizza, de lasanha. Pra comer devagarinho, de mansinho, pra
sentir o sabor daqueles três grãos moídos de pimenta na última hora do prato.


Pra desabotoar o botão da calça, da camisa, da gravata, do controle remoto. Pra subir o som do
rádio, subir pro quarto de cima, pro andar de cima. Subir e descer de elevador.

Pra ficar vendo TV, vendo o nada, vendo a vida passar, o gato dormir.

Só um dia sem culpa, pra sentir saudades de todas as culpas de todos os outros dias.

Era assim que eu queria ficar hoje. Amanhã. Depois de amanhão também.

Pra eu poder lembrar, um dia quem sabe, de um dia que tive culpa.
Culpa por não ser mais alta,
mais bonita, mais magra, mais prestativa, mais paciente, mais esforçada.
Pra lembrar que eu poderia ter sido obcecada pelo mais, mas fui preguiçosa de menos.

nayarac.

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