quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Panela de pressão.

Nos últimos dias que se passaram me permeti a extravagância de pensar um pouco.
E nessas caraminholas da minha cuca encaracolada notei que "coisas" andam acontecendo por ai. Óbvio que minha constatação não broutou do nada: é quase um apanhado de pequenos olhares - internos e externos - que ocorreram nesses tempos.

Porque assim como o Menóquio, as vezes eu arrisco "abrir os olhos e olhar". E puxa! como hoje em dia está difícil ser infeliz, né? Sem grandes profundidades intelectuais pseudamente atribuidas a mim; falo de uma maneira mais cotidianamente. Sim, porque se as coisas chegam no ponto de você não poder comer mais nem o seu feijão com gosto de cozido na semana passada só pode ser porque ser infeliz está virando crime.

Gente, se o feijão foi cozido na semana passada, que mal há nisso? Só vale se for feito no dia? Na hora? Semi-cru??!?
E quem pode cozinhar feijão todo dia. Minha mãe não pode (era realmente necessário dizer que eu tenho quem cozinhe para mim? Isso já não estava claro?!). Tenho certeza que a sua também não.

E mesmo assim elas - minha e sua mãe - nos amam. Porque não é servindo feijão com gosto de "hoje" que se constrói qualquer coisa que seja, incluindo relação mãe e filho.

Fora o feijão tem outras coisas; cada vez mais coisas. É um tal de água saborizada (!!!!), refrigerante sem açúcar mas que tem gosto de açúcar, pasta de dente sabor morango...enfim, a lista é longa. O ruim disso é que cada vez mais é possível, aceitável e até quase obrigatório viver em um mundo irreal. Sim, porque se você acha que é possível ter gosto de abacaxi sem ser feito dele, sim muito: estão te enganando.

E qual é meu problema com isso? Simples: eu não sou feliz o tempo todo. E nem preciso ser, porque afinal faz parte da racionalidade da espécie saber que hoje você encontrou a caça e dormiu de barriga cheia. Amanhã isso pode não acontecer e nada vai mudar - sua barriga vai ficar vazia mas isso é completamente superável.

Gente! o feijão pode ter sido cozinho ontem, anteontem, semana passada. Não há problema nisso! Coma o feijão, saiba porque é bom comer ele, saborear ele, sua história, suas propriedades. Seja feliz porque você está comendo ele e não infeliz porque ele não tem o gosto de feito no dia. É a coisa em si e não a máscara que ela carrega.

É previsível para mim que esse assunto seja de relevância nula, visto que quem exige felicidade total em 5x sem juros e com gosto de feijão do dia somos nós mesmos: brasileiros e brasileiras, cidadãos do mundo, mães e pais e filhos que nunca param para ver que o legal é viver mesmo e não dentro do comercial. Somos nós que não suportamos a ideia - mesmo remota - de comer feijão com gosto de feijão. Precisa ser cena de novela, de cinema, de comédia romana.

E como todo tempo, força, inteligência e beleza gastos nisso, é difícil mesmo ter um punhado de gente consciente de si e do outro - que é você em potencial amanhã. É mais fácil esquecer as imagens ou situações que não gostamos/aceitamos/compreendemos quando existe um consolo tão confortante como o sabor de um feijão cozido no dia.

Ainda mais quando existe de forma tão superficial e mentirosa.

nayarac.

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