segunda-feira, 25 de junho de 2012

Nenhum título cabe aqui.

"Ainda que eu falasse a língua dos homens e a língua dos anjos, sem o amor eu nada seria."

Normalmente, eu começo sempre meus textos com o título. De nada adiantou a professora de línguas dizer a vida inteira que o título deveria ser o último a ser colocado; eu sempre comecei a escrever por ele. Era o título que sintetizava minha ideia, condensava meu sentimento por aquilo que eu escreveria.

Mas dessa vez não vai ser assim. Eu não sei como resumir em uma ideia ou frase ou palavra o que vou escrever, nessa memória virtual. Não sei como começar, nem ao menos qual é o sentimento predominante dessa experiência que relato.

Talvez seja justo dizer que um sonho, quando realizado, se torna mais sonho ainda do que era antes. Porque fica aquela sensação do etéreo, aquele gosto na boca duvidando se foi mesmo verdade aquele fato. Eu estou assim, nesses últimos tempos.
Pensando no que vivi, tenho a impressão de talvez nada tenha sido real. Ou real demais, quase trivial, passando desapercebido na repetição das minhas lembranças.

Mas não. Não foi nada trivial.

Fui a um show, o Tributo à Legião Urbana, uma das bandas mais lembradas e comentadas e cantadas nas aulas de violão aqui do Brasil, de todos os tempos. E não entra aqui méritos ou não musicais, apenas a devoção cega e total da minha pessoa. E de todas as outras 6.999 mil que estavam lá no Espaço das Américas dia 30 de maio. E também das outras que não estavam lá de corpo presente mas de coração e alma.

Engraçado que eu já fui em alguns shows, mas nenhum tinha o que teve naquele dia. Não eram fãs esperando uma banda. Não eram pessoas esperando ouvir músicas legais ou se divertir por algumas horas. Não era um evento social. Era uma reunião de pessoas cantando os trechos de suas vidas, transformados em músicas. Era uma multidão de corações partidos - e ainda alguns por partir, vide a grávida do meu lado na pista. Era um bando de gente chorando a falta daquilo que ninguém sabia o que era. Era um coral cantando as canções mais verdadeiras que eles podiam cantar.

Todo mundo era estranho e conhecido ao mesmo tempo, porque todos estavam ali tentando resgatar um pouquinho daquelas coisas lindas cantadas por eles e pelo Renato. Todo mundo indo ao delírio com qualquer palavra dita por aqueles músicos, tão divinizados por nós naquela noite. 

Não era um show racional. Ninguém ali queria saber de afinação, de coerência musical, de notas corretas. Ninguém ali queria julgar nada. Todos só queríamos viver aquele momento tão especial, tão esperado por tantos anos. Queríamos cantar nossas canções prediletas, ouvir nossos ídolos, chorar com cada nota que saída da boca e dos instrumentos deles. Queríamos delirar naquela noite.

E deliramos. O show foi uma comoção, um delírio geral. Um tipo de transe contagioso pairou sob nossas cabeças naquelas quase duas horas e meia de músicas.

Foi uma experiência muito mais linda do que eu sou capaz de escrever. Porque não foram "só" músicas. Cada música cantada era um jura, uma promessa feita a nós mesmos de amor, comprometimento, de fidelidade. Cantar era prometer que jamais esqueceremos daquele sentimento vivido ali.

Ser fã da legião urbana - tudo o que ela significa, não somente a banda - é selar um compromisso com tudo o que existe de mais verdadeiro e honesto em nós mesmos. 


No final de tudo, quando as luzes se acenderam e a multidão foi saindo ao som de Por enquanto, caminhando devagar a meia luz, eu percebi que a fé movia aquelas pessoas. Todas ali, balbuciando aquelas palavras, indo de volta pra casa com um pouco mais de esperança, de amor, de respeito. Religião urbana nunca fez tanto sentido.

Posso parecer demasiada nesse relato. Mas não poderia ser diferente. Não seria eu se não fosse assim. 

Afinal, a riqueza que nós temos ninguém consegue perceber.
Quase ninguém, eu diria. 

nayarac.

PS: o show que eu fui está disponível aqui: http://www.youtube.com/watch?v=Cfd0iQXcNqE&feature=results_video&playnext=1&list=PLD66072B0D9F660B8

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